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Semana do Terror e Horror MaDame Lumière  25 a 31 de Agosto Um riso nervoso nunca é demais! Por Cristiane Costa Crianças e...

Goodnight Mommy (Ich seh, ich seh - 2014), de Severin Fiala e Veronika Franz

Semana do Terror e Horror MaDame Lumière
 25 a 31 de Agosto
Um riso nervoso nunca é demais!



Por Cristiane Costa



Crianças e mulheres em filmes de Terror / Horror que interpretam personagens perversos, insanos ou com algum tipo de distúrbio psicológico costumam ser uma boa fórmula para o desenvolvimento do roteiro.  Por trás de uma suposta fragilidade, normalmente são personagens que incomodam por ter comportamentos nunca esperados ou que dificilmente são facilmente digeríveis durante a exibição. Prova disso ocorre quando crianças gêmeas sinistras aparecem com requintes de crueldade e mães que deveriam ser amáveis surgem com atitudes raivosas e apavorantes, escolhas como essas têm mais potencial para despertar o horror na audiência. 


O primeiro longa metragem Austríaco de Severin Fiala e Veronika Franz, que também escreveram o roteiro, enfoca esses tipos de personagens aterrorizantes. Uma mãe (Susanne Wuerst), famosa apresentadora de TV, retorna de uma cirurgia plástica com o rosto todo enfaixado. Seus filhos gêmeos Elias e Lukas (Elias e Lukas Schwarz) estranham a presença dela e ficam em dúvida se ela é a verdadeira mãe ou uma possível impostora.





A história começa bem ao colocar o espectador frente a um mistério bastante intrigante, uma história sem passado e uma casa isolada. Não sabemos quem é essa mulher, se ela tem um marido, se tem parentes ou amigos. Não sabemos se as crianças têm colegas, frequentam uma escola,  têm convívio com vizinhos. Em uma vizinhança bucólica, a sofisticada casa de classe média alta tem uma decoração de bom gosto, um estilo asséptico e com pouca movimentação, o que tende a provocar um suspense maior de que a casa guarda um segredo ou pode acontecer uma tragédia a qualquer momento que manchará com sangue toda essa limpeza e organização. Com uma excelente direção e design de produção que usam bem os espaços da casa e coopera para criar um sensação de suspense, a câmera acompanha crianças que já estavam misteriosamente sozinhas em casa e que começam a ter conflitos com a suposta mãe. Ótimos enquadramentos que remetem ao horror, uso de insetos asquerosos e moderna fotografia fantasmagórica contribuem para valorizar o estilo do gênero e a fantasia. 


O ritmo é lento e envolvente e faz com que a tensão cresça e várias perguntas vêem à tona: As crianças são vítimas? São perturbadas psicologicamente? A mãe é uma impostora que deseja vender a casa e matar as crianças? Ela tem distúrbios psíquicos? Ela está lidando com algum trauma do que ocasionou a cirurgia? Quem é essa mulher, afinal? Suzanne Wuerst tem uma ótima performance em cena. Consegue ser ao mesmo tempo uma estranha perversa e uma vulnerável e provável mãe que não sabe lidar com os filhos. Elias e Lukas Schwarz  surgem como incríveis talentos mirim, totalmente aderentes à imagem de horror incômoda que filmes com crianças provocam. Atuam com uma maturidade surpreendente e demonstram que seus personagens são bastante espertos e perversos. Certamente, são atores em potencial para fazer novos filmes do gênero.






Exemplos de planos  bem enquadrados e fotografados para o gênero horror
O que é real? O que é fantasia?




Mais próximo ao clímax, Goodnight Mommy toma um caminho sem volta que tem prós e contras: uso de tortura. Essa estratégia de horror é eficiente se não se restringe só a isso até o final da história. Foi exatamente o que aconteceu: o filme entra no terceiro ato com um ápice de crueldade apressado que o encerra de forma simplista.  O roteiro empobrece com a tortura pura e gratuita, embora necessária para aumentar o horror psicológico e tentar arrancar a verdade  que sufoca a história. Teria sido mais atrativo se os conflitos entre mãe e filhos tivessem sido melhor desenvolvidos com um tipo de tortura mais psicológica do que física, algum ponto de virada mais inteligente no desencadeamento do desfecho , um apoio de personagens coadjuvantes ou algum elemento surpresa que mudasse o rumo da história. Como são uma família isolada, até certo ponto é compreensível as dificuldades de derivar outros fios narrativos e personagens.  Foi uma opção clara dos roteiristas optar por um trio isolado de atores.






Ainda assim, considerando o fracasso e/ou lugar comum que têm sido o gênero terror/ horror nos últimos anos, esse filme traz uma estrutura narrativa, temática, atuações e direção bem superiores em comparação a outros filmes bem abaixo da média. Só peca lamentavelmente em mais um aspecto:  em menos de 10 minutos de projeção, para os mais acostumados aos twists narrativos de filmes desse gênero, é possível entender o mistério. Em suma, é na metáfora que reside sua principal força narrativa. Sua relevância está em sua própria natureza fantasiosa, psicologicamente perturbada e macabra e, em abordar questões como afeto, perda, identidade e família.





Ficha técnica do filme ImDB Goodnight Mommy

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